Presidente da Câmara teceu elogios ao ministro da Economia, mas alfinetou articulação do Planalto
Gabriela Sá Pessoa – Folha de São Paulo
11.abr.2019 às 14h32
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), disse esperar que a proposta de reforma da Previdência vá a votação no plenário da Casa entre maio e junho. Nas previsões do deputado, feitas a investidores em Nova York nesta quinta-feira (11), a tramitação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) deve engrenar após os próximos feriados, de Páscoa e 1º de Maio.
“[O cenário] é muito diferente hoje do que era em 2017. Se todo mundo ajudar, a gente vai aprovar. Mais 30 dias ou menos 30 dias não fará nenhuma diferença. O que faz a diferença é antecipar e perder ou tirar da matéria o que é fundamental, professor e policial”, afirmou.
Nessa projeção otimista, a reforma seria votada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na próxima semana, até quarta-feira (17), e seguiria para uma comissão especial após a Páscoa.
“Tem condição de aprovar, tirando o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e aposentadoria rural e garantir uma economia perto do trilhão [estimada por Guedes]. Para isso, precisa paciência. Na democracia, precisa paciência. Ouvir muito, falar pouco e dialogar muito.”
Segundo o presidente da Câmara, esses dois pontos não são decisivos do ponto de vista fiscal, mas atrapalham muito a discussão política.
Maia foi aplaudido pelos investidores, reunidos no evento XP Investments Conference Brazil: First 100 Days, para discutir os primeiros cem dias do governo Jair Bolsonaro (PSL). Teceu elogios ao ministro da Economia (“se tem uma pessoa que me ajudou, foi o Paulo Guedes”, afirmou), mas alfinetou a capacidade de articulação política do Planalto.
O presidente da Câmera foi apresentado na conferência de investidores como uma das duas únicas pessoas defendendo a reforma da Previdência no país, ao lado de Guedes —percepção que, para o deputado, é sinal “de quem tem alguma coisa errada”.
Maia avalia que o que aparenta ser uma falta de engajamento do presidente com o tema tem a ver com a pouca intimidade de Bolsonaro com a discussão de mudanças no regime previdenciário. No entanto, afirmou que os recentes encontros no Planalto com líderes partidários têm ajudado a desanuviar a articulação pela reforma.
“A agenda do presidente nunca foi a agenda liberal, sempre foi a agenda conservadora. Ele fez uma aliança em janeiro do ano passado com o Guedes. Daí o conforto de uma pessoa que nunca defendeu a agenda em três meses não é o mesmo como ele tem de defesa dos militares. Isso precisa de transição, que acredito que esteja ocorrendo. Não sou pessimista”, afirmou.
A paciência dos investidores, porém, não parece ser infinita. Da plateia, uma participante brasileira da conferência disse ao deputado que “time is money, as we know” (tempo é dinheiro, como sabemos) e que “quanto mais demorar [a reforma], mais dramática a situação fica”.
“O deputado não chegou ao parlamento com a agenda do Paulo Guedes, ao contrário, chegou com a agenda do interior do município, quer saber quando chega saneamento, saúde, professor e emprego lá”, respondeu Maia.
Para Maia, falta ao governo organizar o diálogo com clareza com o parlamento e esclarecer aos congressistas qual é a agenda que pretende implantar no Brasil. No caso específico da Previdência, afirma que o governo precisa detalhar pontos como a economia prevista de R$ 1 trilhão.
“Isso atrapalha mais o andamento da Previdência do que qualquer participação de qualquer partido no governo. Está consolidando uma linha de que vai ficar mais uma aliança em base de projeto.”
Maia voltou a dizer que não é atribuição sua articular a reforma e “quem coloca o carro no rumo” é o governo responsável, além do diálogo, pelos recursos de publicidade para promover campanhas favoráveis ao projeto entre a população.
O deputado mencionou a pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira (10) que mostrou que a reforma é rejeitada por 51% da população. Para ele, a sondagem “pegou um momento ruim”.
“Ela [pesquisa] feita com boa comunicação do governo –que não está fazendo–, feita daqui a 30 dias, vai inverter. As pessoas precisam saber que precisa fazer a reforma. Nesse caso, todo mundo aqui pode ajudar, mas o governo tem que atuar, é o único que tem recursos para isso”, afirmou.
Maia defendeu que não adianta apostar só em uma estratégia para a internet, desconsiderando a importância dos meios de comunicação tradicionais no Brasil.
Alvo de ataques da base bolsonarista nas redes sociais, o presidente da Câmara criticou o uso desses meios por membros do governo. “Alguns no governo, apesar da idade, usam o Twitter. Twitter é um perigo. As pessoas usam o Twitter e depois se arrependem de usa com essa energia toda”, disse.