Por Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico
27/02/2019 – 05:00
Pouco mais de um mês após a queda da barragem da mineradora Vale na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, o rio Paraopeba, atingido pela onda de lama e rejeito, continua contaminado por metais pesados e não há ainda data para retomada da captação de suas águas para o consumo.
A Copasa, empresa pública de saneamento de Minas, suspendeu a captação no rio para o atendimento da região metropolitana de Belo Horizonte no mesmo dia da tragédia, 25 de janeiro. Dezoito municípios, incluindo Belo Horizonte, estão sendo abastecidos pelas represas do Rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores e pela água captada do Rio das Velhas. Esses sistemas já abasteciam a região. Segundo a Copasa, mesmo sem o uso do Paraopeba, esses rios e represas têm capacidade para suprimento até o período de seca de 2020.
Um estudo feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, que será divulgado hoje e ao qual o Valor teve acesso, aponta que nos dias seguintes ao desastre indicadores da qualidade das águas do Paraopeba ficaram entre “ruim” e “péssimo”.
Integrantes da entidade coletaram durante os dias 31 de janeiro a 9 de fevereiro amostras de água em 22 pontos do rio ao longo de 305 quilômetros. “O índice de qualidade da água obtido em 10 pontos foi ruim e, em 12 pontos, foi péssimo”, segundo o documento.
A fundação usou o Índice de Qualidade da Água (IQA), que leva em conta parâmetros físicos, químicos e biológicos das amostras de água. Usou também análises microbiológicas e de metais pesados.
“A concentração de metais pesados verificada ao longo de toda a extensão do rio Paraopeba afetada pelos rejeitos de minério está acima dos limites máximos definidos na legislação vigente”, apontou o estudo. “Os metais presentes na água em quantidades nocivas ao ambiente, à saúde humana, à fauna, aos peixes e aos organismos vivos, em toda extensão monitorada do rio, são: ferro, cobre, manganês e cromo.”
A qualidade do Rio Paraopeba vem sendo monitorada diariamente por uma rede de técnicos da Copasa, do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam), da Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Serviço Geológico do Brasil.
Assim como o levantamento da SOS Mata Atlântica, o balanço mais recente produzido por esses órgãos mostrou que a tragédia continua comprometendo a qualidade do rio na região metropolitana de Belo Horizonte. O balanço, publicado ontem, informa que as concentrações de manganês total, ferro dissolvido, alumínio dissolvido, chumbo e mercúrio estão em níveis que violam os limites estabelecidos pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e Conselho Nacional de Meio Ambiente.
As amostras foram colhidas em 17 pontos do rio. Algumas dessas substâncias apareceram em níveis acima do permitido em quase todas as amostras. “Na coleta realizada no dia 22 de fevereiro, observou-se violação aos padrões de mercúrio total, em praticamente todas as estações”, diz o balanço. Das 17, em 4 as medições estavam dentro do limite permitido.
A SOS Mata Atlântica afirma que para a recuperação da qualidade da água na bacia do Paraopeba “é essencial que sejam adotadas medidas efetivas de remediação dos danos ambientais, de ressarcimento das comunidades, das famílias e atividades econômicas afetadas.”
Para a entidade, a tragédia em Brumadinho e a de Mariana, em 2015, “colocam em xeque a capacidade das instituições brasileiras de adotar medidas” capazes de evitar que outros desastres se repitam.