Por Andrea Vialli – Valor Econômico
22/03/2019 – 05:00
Encontrar uma solução para a grande quantidade de resíduos que sobravam da produção de palmito em conserva foi a motivação do analista de sistemas Guilhermo Queiroz para empreender. Com a família trabalhando no ramo, ele se inquietou com o fato de que apenas 3% da palmeira cultivada são aproveitados – caules, folhas e raízes são descartados, gerando toneladas de resíduos. Buscando uma utilização para eles, passou a procurar projetos de pesquisas em universidades, até descobrir os estudos do mestre em materiais Wagner Martins, do Centro Universitário de Volta Redonda, no interior fluminense, que apontavam as propriedades de absorção de óleos da fibra da palmeira.
Assim foi criada em 2014 a Biosolvit, startup de biotecnologia que tem como carro-chefe um produto absorvedor de óleo desenvolvido a partir da fibra da palmeira, destinado à descontaminação de águas poluídas por vazamentos de petróleo e derivados. “O biopolímero que desenvolvemos absorve com rapidez todo tipo de óleo mineral ou vegetal e se mostrou mais eficiente do que as tecnologias já disponíveis no mercado”, diz Queiroz.
Um quilo do biopolímero absorve 22 kg de petróleo em 15 minutos, enquanto 1 kg de poliuretano, comumente usado para esse fim, absorve até 12 kg de petróleo no dobro do tempo. O absorvedor também pode ser utilizado por empresas de outros segmentos, de oficinas mecânicas a portos, siderúrgicas e grandes mineradoras No ano passado, a startup captou R$ 2 milhões com investidores-anjo e construiu uma fábrica em Porto Belo (SC), recéminaugurada, para dar conta dos pedidos. Entre os clientes estão Vale, CSN, Arcelor Mittal e os portos de Sepetiba (RJ) e Itajaí (SC). Após realizar a primeira exportação para a França, os sócios preparam a internacionalização da empresa.
A perspectiva é fechar o ano com um faturamento de R$ 3,6 milhões, o triplo da receita obtida em 2018. O mercado potencial é vasto -, 5,73 milhões de toneladas de petróleo foram derramadas nos oceanos desde a década de 1970, segundo estimativa da International Tanker Owners Pollution Federation Limited (ITOPF), ONG que luta contra os vazamentos de petróleo e produtos químicos.
A O2eco, de São José dos Campos (SP), trouxe da Austrália uma tecnologia de despoluição de águas que, em vez de produtos químicos, utiliza placas de parafina incrustadas com nano-minerais. Essas estruturas são inseridas nas águas poluídas com alta carga orgânica, sejam rios e lagos ou estações de tratamento de efluentes industriais. Os minerais presentes na placa estimulam a proliferação de bactérias que consomem a matéria orgânica e inorgânica.
“O segredo da tecnologia está na ativação das bactérias benéficas, que se multiplicam rapidamente e equilibram a demanda biológica de oxigênio (DBO), um dos parâmetros de qualidade da água”, explica Luís Fernando Magalhães, sócio fundador da O2eco.
Com a estimulação, as bactérias na água podem crescer de 8 mil vezes para 8 milhões de vezes a cada dez horas, o que torna a degradação da matéria orgânica na água mais rápida. Segundo Magalhães, em média o sistema é 30% mais barato do que a descontaminação por meio de produtos químicos e traz redução de 92,2% na DBO.
A tecnologia foi utilizada para despoluir o lago do Parque da Cidade, que tem três mil metros quadrados, em São José dos Campos – o local estava com nível de médio para alto de matéria orgânica em suas águas, exalando mau cheiro.
Foram colocadas 5 placas de 5 quilos cada, a um custo total de R$ 250 mil, e em oito semanas as águas apresentaram resultados significativos, com redução de 82% das cianobactérias. Em razão do sucesso do projeto, a O2eco vem sendo procurada por prefeituras para realizar orçamentos de despoluição de rios e lagos. “Nosso sonho é que a tecnologia ajude a despoluir o rio Pinheiros e a Lagoa Rodrigo de Freitas”, diz Magalhães.
A Iguá Saneamento, que atua em 18 concessões e PPPs, lançou no ano passado sua iniciativa Iguá Lab, para se conectar com as startups. O processo atraiu 90 empresas, sendo que dez foram selecionadas para ser apoiadas seja com mentoria, contrato de prestação de serviços ou investimento.